ATA DA DÉCIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 12. 05. 1987.

 


Aos doze dias do mês de maio do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Primeira Sessão Solene da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada a homenagear a Federação de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, em razão de seu 60º aniversário de fundação. Às dezesseis horas e trinta minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declara abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancadas a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver.ª Teresinha Irigaray 1ª Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Ver. Cleom Guatimozim, Líder do PDT, representando, neste ato, o Dr. Alceu Collares, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Dr. Ary Marimom, Presidente da FARSUL; Dr. Bruno Linck, Fundador da FARSUL; Professor Gerhard Jacob, Vice-Reitor da UFRGS, representando, neste ato, o Reitor da UFRGS; Ver. Frederico Barbosa, 2º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre. A seguir o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Pedro Ruas como proponente da presente Sessão, e em nome do PDT, salientou a importância da fundação da FARSUL há 60 anos pelo Sr. Borges de Medeiros, dizendo da representatividade dessa entidade para a agricultura do nosso Estado, bem como para a sua economia. Disse que os esforços de seus dirigentes conjugados à união do homem do campo, fizeram com que a FARSUL se tornasse uma entidade de grande valor social. O Ver. Flávio Coulon, em nome da Bancada do PMDB, salientou o espirito de cooperativismo da FARSUL, dizendo da importância deste órgão para os pequenos e médios produtores rurais e também para a economia do nosso Estado. Ao final salientou que a força da FARSUL reside na união das classes ruralistas do Estado e dos que atuam no setor primário e fazem do Rio Grande do Sul o “celeiro do Brasil”. O Ver. Hermes Dutra, pela Bancada do PDS e do Ver. Independente Jorge Goularte, enfatizou que a FARSUL, nos seus sessenta anos de existência, sempre esteve ao lado do homem do campo, dizendo que esta entidade reconhecia a importância dessa mão de obra tão necessária para a econômia de todos os governos. Salientou por fim, que ao reverenciar ao homem do campo, prestava uma homenagem à própria FARSUL. E o Ver. Artur Zanella, em nome do PFL, disse da justeza da homenagem prestada por esta Casa à FARSUL, devida a importância desta para a agricultura gaúcha. Comentou o seu espírito cooperativista e saudou aquela Entidade pela passagem do seu sexagésimo aniversário de fundação. Por fim, congratulou-se com o Dr. Ary Marimom por sua eficiência à testa daquele órgão. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Dr. Ary Marimom, Presidente da FARSUL, que agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Em continuidade, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo a presente solenidade e convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem ao Gabinete da Presidência, onde seria oferecido, pela FARSUL, um coquetel. Convocou os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental, e levantou os trabalhos às dezessete horas e quarenta minutos. Os trabalhos foram presididos pela Verª. Teresinha Irigaray e secretariados pelo Ver. Frederico Barbosa. Do que eu, Frederico Barbosa, 2º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada será assinada pelo Presidente e 1ª Secretária.

 

 


A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o proponente desta Sessão Solene, Ver. Pedro Ruas, que falará em nome da Bancada do PDT.

 

O SR. PEDRO RUAS: Sra. Presidente, Srs. Vereadores, fundada no dia 24 de maio de 1927, a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul comemora em 1987 os seus 60 anos de existência. A FARSUL, que também ficou conhecida como a “Casa Rural”, teve sua criação promovida pelo então Presidente do Estado, Dr. Antônio Borges de Medeiros, que no palco do Teatro São Pedro inaugurou a primeira sessão de trabalhos do Congresso de Criadores do Rio Grande do Sul.

Em prolongado discurso, o Dr. Borges de Medeiros fez uma ampla análise da situação econômica da indústria da carne e do charque no Rio Grande e América do Sul. Conclamou, na oportunidade, os criadores gaúchos a se unirem, dizendo: “Associai-vos; organizei um direção central; criai os organismos necessários à defesa de vossa indústria. Individualmente ou isolados, continuareis a ser fracos e impotentes, mas organizados e unidos pela solidariedade e cooperação sereis uma força invencível”, enfatizou o Presidente dos gaúchos.

Naquele 24 de maio de 1927, logo após um trabalho prévio, que vinha sendo elaborado por um grupo de ruralistas liderados por Ricardo Pereira Machado, a assembléia – com a presença de 27 delegados representando as Associações Rurais Gaúchas – decidiu fundar a nova Federação, que recebeu a denominação de Federação das Associações Rurais do Rio Grande do Sul.

A moção foi aprovada por unanimidade, com longa salva de palmas. Poucos dias depois, eram aprovados os estatutos e eleita a primeira diretoria da nova entidade. No ano seguinte, 1928, era lançada a pedra fundamental da sede da Federação, que passou a ocupar o endereço da recém aberta Avenida Borges de Medeiros, em ato que contou com a presença do então Presidente do Estado do Rio Grande do Sul, Dr. Getúlio Vargas. Sua atual sede, localizada na Praça Antônio Sain’t Pastou de Freitas, 125, foi inaugurada em 10 de março de 1982.

Para adaptar-se a Lei Federal n.º 424/63, que introduzia a sindicalização rural no País, a FARSUL realizou reunião com suas associações rurais quando ficou decidida a transformação da então Federação das Associações Rurais do Rio Grande do Sul em Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, o que ocorreu em novembro de 1965. Desde então, o movimento sindical foi se estendendo por todo o Estado, passando a FARSUL, hoje, a contar com a filiação de 106 sindicatos rurais.

A diretoria da FARSUL, eleita em 22 de março de 1985 para a gestão 85/88, é integrada pelos seguintes membros efetivos: Ary Faria Marimon (Presidente); Adolfo Antonio Fetter (1º Vice-Presidente); Pedro Monteiro Lopes (2º Vice-Presidente); Suleiman Guimarães Hias (1º Secretário); Álvaro Correa de Azevedo (2º Secretário); Camilo Alberto da Silveira Cottens (1º Tesoureiro); e Olavo Brasil Borges (2º Tesoureiro).

Hoje, quando se comemora a passagem dos 60 anos de existência da FARSUL, há que ser registrado que tal fato representa uma vitória da entidade e também, talvez acima disto, uma vitória de todo o Estado do Rio Grande do Sul, pois os interesses que ela representa são os próprios interesses da economia gaúcha.

Dificuldades não faltam nestes 60 anos de história. A tenacidade, o espírito de luta e a visão de futuro, entretanto, foram maiores e mais importantes que os obstáculos que se encontra em qualquer trabalho que se realize com o objetivo de fortalecer a economia regional.

A bravura, símbolo maior da gente gaúcha, aliada à competência de seus dirigentes, fez da FARSUL uma entidade vitoriosa, mesmo continuando a enfrentar dificuldades sempre e sempre maiores na sua representação dos sindicatos rurais do Estado.

Por todos esses motivos é que a Câmara de Vereadores, representando todo o povo de Porto Alegre, aprovou por unanimidade o projeto deste Vereador que visava a homenagear a Federação que, com sua luta e seu vigor, decidiu-se durante 60 anos a homenagear o próprio Estado do Rio Grande do Sul.

Parabéns, senhores dirigentes da FARSUL. Parabéns, Dr. Ary Marimon, Presidente e representante maior desta entidade. Parabéns, enfim, a todos nós, que temos o orgulho de ser gaúchos e conviver há 60 anos com o trabalho digno e exemplar da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: A Mesa concede a palavra ao Ver. Flávio Coulon, que falará pela Bancada do PMDB.

 

O SR. FLÁVIO COULON: Sra. Presidente, Srs.Vereadores, demais personalidade presentes, há alguns meses, quando se votava nesta Casa o projeto que instituiria o dito “Sábado inglês” para os comerciários, alinhava as razões contrárias de meu voto embasando-as fundamentalmente, no fato de que o PMDB não é um partido coorporativista. É uma agremiação partidária onde coexistem as idéias de patrões e empregados, comerciantes e comerciários, banqueiros e bancários, industriais e operários, ruralistas e agricultores. É essa coexistência de interesses múltiplos que me encanta e fortalece em termos de militância partidária no PMDB.

E é na certeza dessa coexistência dinâmica, onde a soma de esforços é sempre voltada para os interesses maiores da Nação, que venho a essa tribuna, com imensa satisfação e honra, saudar os 60 anos da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, sem dúvidas nenhuma uma das mais respeitadas vozes que, nacional e regionalmente, se faz ouvir nessa imensa luta por aquele Brasil e aquele Rio Grande almejado pelos homens de responsabilidade e pelo povo em geral. Quão proféticas as palavras de Borges de Medeiros naqueles idos de 1927:

“Senhores Criadores:

Associai-vos, organizai uma direção central, criai organismos necessários à defesa de vossa indústria. Individualmente e isolados continuareis a ser fracos e impotentes, mas organizados e unidos pela solidariedade e cooperação sereis uma força invencível.”

E como caíram em terrenos fértil as recomendações do Dr. Ricardo Pereira Machado, primeiro presidente da FARSUL!

“Agora ides tornar ao interior do Estado. Não seremos mais duas pessoas a pregar idéias; já estamos centuplicados os propagandistas; já o bom êxito da primeira tentativa influirá beneficamente nos esforços que se vão seguir. A realização de nossos desejos depende do vosso trabalho e não da Direção Central; esta é o vosso órgão, apenas. Daí-nos força: os desunidos não vencem. Já vos disseram: “Unidos sereis invencíveis”.

A partir dessa união estabelecida, as 26 sociedade agropastorais gaúchas, que inicialmente se reuniram em um centro que representasse a então principal riqueza do Estado, se multiplicaram e hoje a FARSUL congrega nada menos que 106 sindicatos, fortalecendo ainda mais o tão sonhado congraçamento da classe e defendendo e representando o pequeno, o médio e o grande produtor rural.

Onde a força da FARSUL? – perguntei eu ao elaborar essa saudação.

Respondem-me seus dirigentes: “A FARSUL está atingindo seus 60 anos porque nunca descurou da aglutinação da classe rural mesmo porque essa unidade representa o progresso do nosso Estado, essa unidade se confunde com os interesses do próprio Estado, pois no setor primário é que se embasa, se origina a grandeza do setor secundário e terciário. Sua força está consubstanciada na união da classe dos produtores rurais do Estado que, juntamente com os Poderes Públicos, vem impulsionando a riqueza das nossas lavouras e dos nossos campos”.

Graças ao convívio, nem sempre pacífico mas sempre patriótico, entre classes rurais, governo, técnicos e trabalhadores rurais que atuam no setor primário, foi possível, em passado não remoto, fazer do Rio Grande o celeiro do Brasil e dar aos nossos rebanhos um índice zootécnico situado entre os maiores do mundo. Quem desconhece, por acaso, de que foi desse convívio que se tornou possível se obter, por exemplo, variedades de sementes de arroz, trigo e outros produtos agrícolas perfeitamente adaptados ao clima e ao solo rio-grandense? Quem desconhece o papel destacado que a FARSUL teve em todas estas conquistas? Ninguém.

Também ninguém mais desconhece no Rio Grande que passa pela FARSUL e pelos produtores aqui presentes e representados, lídimos e incontestáveis representantes da comunidade rural rio-grandense, unidos sempre, a grande tarefa, a gigantesca tarefa de reconduzir nosso Estado a sua posição anterior de celeiro do Brasil, hoje perdida exclusivamente por fatores externos que nada têm a ver com a capacidade de trabalho e com a visão prospectiva de nossos produtores rurais.

Ao cumprimentar a classe de produtores na figura da entidade Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul – FARSUL, cumprimento todos aqueles que direta ou indiretamente trabalham na terra produzindo alimentos, não importando sua condição de pequenos, médios ou grandes agricultores ou pecuaristas mas, sim importando apenas o trabalho que desenvolvem. O que avulta, nesse momento, é exaltar o amor que dedicam à nobre missão de produzir alimentos para o nosso povo, tão deles carentes. A prova desse amor, dessa dedicação, está na tez queimada pelo sol abrasador e enrugada pelo frio do minuano, está na mão calejada que empunha a enxada e acaricia a criança, está no pensamento diário que pula incessantemente da simplória indagação sobre o tempo para a complexa indagação do destino de seu trabalho, tão dependente de outros homens, está na pertinácia com que, ano a ano, com safra boa ou safra ruim se renova no coração desses homens de terra e da terra a esperança sempre imorredoura de dias melhores para o País.

Sr. Presidente Ary Marimon, teve a esses homens amorosos que V. Ex.ª tão bem representa os agradecimentos dessa Casa, da Bancada do PMDB, do povo de Porto Alegre, do povo do Rio Grande do Sul e do povo do Brasil. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: A Mesa concede a palavra ao Ver. Hermes Dutra, que falará em nome do PDS e em nome do Vereador independente, Ver. Jorge Goularte.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sra. Presidente, Srs. Vereadores.

Quero registrar três presenças e peço que nelas se situam saudadas todas as demais autoridades. Refiro-me ao nosso ilustre amigo Adelar Cunha, Presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul; nosso particular amigo Dr. Décio Marimon, filho do nosso ilustre Presidente e uma das figuras da juventude nacional do Partido da Frente Liberal; igualmente nosso comum amigo Eneci Antunes da Silva, homem ligado às lides e Presidente do nosso Clube onde, no fim-de-semana, nos reencontramos com a nossa origem do interior, respirando o ar puro e, na roda do chimarrão, ouvindo o farfalhar das árvores, vemos, discutimos, debatemos e sentimos muitas vezes quão injustiçado é aquele homem que a FARSUL representa.

Sra. Presidente, 60 anos são seis décadas que não podem passar despercebidas por segmentos nenhum da sociedade, de forma muito particular quando se trata de uma entidade como a Federação das Associações Rurais do Estado, que, neste período, sempre esteve, diuturnamente, ao lado do homem do campo. E aqui se confunde a homenagem. Quando se homenageia a FARSUL, se requer e se exige também uma homenagem àquele que vive com as botas sujas, que vive angustiado pelo papagaio que vence no fim do mês, com a correção injusta que lhe corrói o lucro e que garante o abastecimento da vida faustosa que levamos nós, da cidade.

Que sejam as minhas palavras, em nome da Bancada do Partido Democrático Social e por solicitação expressa do Ver. Jorge Goularte, a saudação à FARSUL e ao homem do campo, o homem do campo tão incompreendido não só por este, mas por tantos outros governos que passaram ao longo da história desta República, e nunca lhe passou pela cabeça responder esta indiferença e ignorância, até mesmo dos seus problemas, com o cruzar dos braços, deixando de abastecer a cidade; o homem do campo, que não sabe o que vai lhe acontecer amanhã, a quem, a cada dia, com o cantar do galo e com o surgimento da barra do dia, surge a dúvida insana se o governo não tomará uma nova medida econômica naquele dia; este homem que já foi posto, até, como vilão por falta da carne no mercado; este homem que uma imprensa, muitas vezes fugindo da responsabilidade que tem de bem informar, levou, aos quatro cantos do País, como o responsável único pelo povo brasileiro não comer carne. A esse homem, nesse dia, nós queremos reverenciar, porque, em o reverenciando, estaremos prestando a maior homenagem que a FARSUL pode receber. O produtor rural, o criador de gado, o homem que vive lá fora, temendo quando nuvens negras anunciam chuva ou preocupado quando o sol inclemente lhe tira a água que vai fazer vicejar a sua plantação e lhe garantir, pelo menos, que preserve o bom nome, pagando a dívida que contraiu para engordar o bolso dos banqueiros. Esse homem, que outrora significou a força do Rio Grande e que, por injunções que cabem ser analisadas hoje, amanhã, como deveriam ter sido analisadas ontem, hoje já não tem aquele poder que detinha e que, por isso mesmo, pouco influencia, a nosso juízo, infelizmente, nos rumos da política brasileira.

Disse muito bem o Ver. Flávio Coulon quando referiu que entendemos que deva haver hegemonia desta ou daquela classe. É da simbiose das opiniões, da junção dos pensamentos que se consegue achar o caminho mais indicado, o menos doloroso para perseguirmos até chegarmos àquilo que todos sonhamos, que é um Brasil justo, farto e de benefícios para todos os brasileiros. Mas não podemos, em hipótese alguma, deixar que se venda essa imagem de que o homem do campo é o responsável pela pobreza da cidade. Não. Ao contrário, o homem do campo, quando bem assistido, é a garantia de diminuição do cinturão da miséria da cidade. O homem do campo, que não precisa das esmolas de crédito subsidiado, mas precisa, isto sim, da garantia de bem poder produzir e de bem poder vender o seu produto, esse homem garante a diminuição da miséria da cidade, mas isso vai acontecer no dia em que o governo olhar para ele, não com olhos bondosos, porque de bondade os discursos capeiam, principalmente nas épocas eleitorais, mas olhar com a responsabilidade, com a dever que tem para com quem produz, para quem tem a terra e nela trabalha, não para quem tem a terra e, na visão de um ou de outro, mal-informado, diz que nela não se trabalha e se lhe tira, deixando mais um sem ter terra para nela trabalhar.

Esta é a homenagem, Dr. Ary Marimon, que nós achamos que melhor poderíamos prestar a FARSUL – o reconhecimento ao homem que fez a FARSUL.

E andou muito bem o Ver. Pedro Ruas ao solicitar esta homenagem, porque pode até parecer que nós, da cidade, nós, que vivemos neste dia-a-dia agitadíssimo da grande metrópole, estamos desassociados, estamos de ouvidos moucos e de olhos cerrados para os problemas do campo. Não. A homenagem do Ver. Pedro Ruas tem muito de homenagem, também, ao homem do campo, e a nossa bancada se associa a isto, pedindo-lhe que transmita, nas suas longas peregrinações pelo interior, a conversar com os seus liderados, ou mesmo nos acarpetados gabinetes dos centros de decisões, o que a Casa de Porto Alegre, composta de citadinos mas de coração profundamente ligado e arraigado no campo, deliberou e hoje está prestando.

Receba o nosso abraço e com ele a nossa esperança de que esta nova temporada de vida da FARSUL para os próximos 60 anos seja de 60 anos de luta, sim, porque a luta é do homem e com ela o homem se enobrece, mas que seja uma luta menos inglória, com mais compreensão e, sobretudo, com mais certeza e menos indecisões para aquele que trabalha, da madrugada ao sol deitar, sem bater se amanhã encontrará transporte para o seu produto, local para guardar o seu produto e, sobretudo, o que é mais grave, se haverá alguém que lhe pague um preço decente pelo que produziu. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Artur Zanella pela Bancada do PFL.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: Sra. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores. A Câmara, que representa esta Cidade, reúne-se hoje, nesta Sessão Solene, numa homenagem prestada à classe produtora gaúcha e suas lideranças, que se inicia, por seu primeiro Presidente, Ricardo Pereira Machado, em 1927, seguindo-se figuras históricas como Aníbal Di Primio Beck, Balbino Mascarenhas, Oscar Daudt Filho, Marcial Terra, José Salgado Martins, Dácio Assis Brasil, Antônio Saint Pastaus de Freitas, Nicanor Kraemer da Luz, Luiz Fernando Cirne Lima, Iber Benvegnu, Presidente do Cinqüentenário, e outros tantos abnegados líderes rio-grandenses, chegando a nossos dias com Ary Faria Marimon, que tem marcado sua presença na presidência da entidade que congrega os empresários rurais do Estado com equilíbrio, inteligência, extraordinária devoção às causas que atingem o setor primário da nossa economia. É a homenagem que a nossa comunidade presta, com especial regozijo, a todos os que lançaram, ainda no século passado, pelas associações rurais, as sementes que deram origem à criação da FARSUL, tornando-a a primeira federação da agricultura criada no Brasil.

Meus Senhores, ontem à tarde, em viagem para Porto Alegre, eu estava numa emissora de rádio o Dr. Camilo Cottens, que falava sobre a agricultura, sobre a pecuária. E eu me perguntava – naquele momento eu tinha bastante tempo – o que é que faz com que uma pessoa fique no interior, plantando e criando, ainda, nos dias de hoje? O que faz com que pessoas fiquem lá? E eu as conheci muito onde me criei, na fronteira. Na terra onde nasci, Quaraí. Na terra onde me criei, que foi Itaqui, onde estudei, que foi em Uruguaiana. O que fazia com que aquelas pessoas ficassem “pra fora”, como nós chamávamos, plantando, colhendo, às vezes até não colhendo, criando, se seria muito mais fácil para eles virem para a cidade e aqui aplicarem os seus valores, sem trabalho algum, manter a sua família? Perguntava para mim mesmo por que meu pai, por exemplo, ficou 35 anos trabalhando no setor público e, ao se aposentar, a primeira coisa que fez foi ir para o interior, numa pequena chácara que não lhe dava nenhum rendimento econômico, mas lá plantava e colhia. E eu lhe perguntei, um dia, por que ele fazia isto e ele me respondeu: “Pelos meus netos”. Porque alguém teria que alimentar as pessoas. E eu também, como meus colegas, peguei algumas frases; uma, do Ricardo Pereira Machado, primeiro Presidente. Também uma das coisas que eu sempre noto – Ricardo Pereira Machado era médico e criador: o número de médicos, principalmente no interior, que vai procurar na criação não um rendimento econômico, mas, sim, aquela luta por uma vida evidentemente diferente das outras. Não é melhor e nem pior. E dizia, naquela época, Ricardo Machado que o Rio Grande do Sul estamos com cerca de 10 mil criadores espalhados, separados, distanciados uns dos outros, revigorando, por isto mesmo, a energia individual que herdamos, contando quase sempre só com o “eu”. Porém, permanecemos desatentos e duvidosos do valor da ajuda dos outros. “Cada um por si” tem sido o lema classe. O espírito de associação tem sido frouxo, e não conseguimos manter longamente importantes associações rurais”. E naquela época, naquele congresso, a minha terra foi representada por um tio do Ver. Martim Aranha Filho, Euclides Aranha. Me parece que naquele momento termina essa fase de isolamento e se parte para a associação, que é representada pela FARSUL.

Ouvia, também, naquele programa de rádio, que muitos dos senhores devem ter ouvido, logo depois o analista econômico dizendo que o “over” tinha chegado a mais de 40%. E alguém perguntou: “E isso não vai atrair para cá os produtores rurais, que talvez vendam as suas propriedades para obter esse lucro?” E o comentarista disse: “Não façam isso, porque daqui a dois anos esta ciranda financeira acaba e as pessoas não lucrarão tanto quanto pensavam”.

E aí vem aquela idéia citadina que hoje, como faço parte dessa Cidade, também penso, que para o produtor rural o bom mesmo é ficar lá, lutando, de madrugada. Tenho certeza que muito dos produtores estão aqui, nesse momento, com o olho lá fora para ver se está chovendo, para ver se não vai atrapalhar a colheita do arroz, da soja, se uma chuva demasiada não vai prejudicar a preparação das culturas de inverno, do trigo, da aveia, do azevém. Enquanto nós, citadinos, nas indústrias, no setor público, aqui, como Vereadores, Deputados Federais, Senadores, temos um teto amigo que nos protege, temos lá não os 10 mil de que falava o Presidente à época, mas muito mais produtores que vêem, quando estão plantando, quando estão terminando a colheita do arroz, por exemplo, chegar notícia de mais arroz importado, arroz que não se consegue, nem ao menos, descarregar desses navios, café que, para abrir os “containers” do navio – eu ouvia ontem – nem o Governo do Paraná se responsabiliza pela abertura dos “containers”, porque aquele café estava deteriorado, aquele café poderia trazer pragas, aquele café não servia para nada, como a maior parte desse arroz que está aí, que não serve para nada, como esse leite que não serve para nada e que agora será vendido com um aviso de que ele é radioativo, que ele pode matar as nossas crianças, matar os nosso idosos e todos aquele que necessita deste alimento precioso. Dessa carne que está aí no Porto de Santo, boa parte dela está também contaminada. O queijo, contaminado.

Enfim, eu acho, concluindo, falando em nome da nossa bancada, do Partido da Frente Liberal, que é um raciocínio que vem a todo o Vereador que participa desta solenidade e a todos os que vem aqui estão: nós temos, hoje, que saudar a FARSUL, a sua existência, sua longa vida de 60 anos, mas dizer, claramente, que esses homens, que essas entidades, precisam de nosso apoio, além das homenagens justas, oportunas, porque lembram da existência desses segmentos hoje esmagados por toda uma conjuntura.

Nós precisamos também, no momento em que este País faz uma Constituição, em que os rumos futuros da Nação estão sendo dirigidos, estão sendo definidos lá em Brasília, Capital da Ilha da Fantasia, nós, os Vereadores, os Deputados, os Senadores, que fomos eleitos para defender a comunidade, nós precisamos estar lá, com a nossa palavra, com a nossa pressão, junto a todas essas classes que, de uma forma ou de outra, mantêm ainda este País vivo e mantêm este País íntegro.

É isto, Sra. Presidente, nesse final de tarde em que eu pretendia, somente, em nome do meu partido, saudar esta entidade, mas creio que, além desta saudação, nós temos que sair daqui hoje juntos e irmanados em luta, em prol daqueles que são os responsáveis pela alimentação de um país com quase 150 milhões de habitantes, porque, na hora em que for necessário, nós, tenho certeza, não receberemos nada do exterior. Nós temos a nossa manutenção, a nossa salvaguarda e a nossa vida ligada, indissoluvelmente, a todos aqueles que no campo trabalham, no campo labutam e que no campo tanto sofrem. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: A Presidência tem a satisfação de passar a palavra ao Dr. Ary Marimom, Presidente da FARSUL.

 

O SR. ARY MARIMOM: Ver.ª Teresinha Irigaray, Vice-Presidente desta Casa e que preside este ato; Ver. Cleom Guatimozim, Líder do PDT, representando o Sr. Prefeito Municipal, Dr. Alceu Collares; Ver. Frederico Barbosa, 2º Secretário da Câmara Municipal; meu prezado Vice-Reitor e amigo, Professor Gerhard Jacob, representando neste ato o Sr. Reitor da Universidade do Rio Grande do Sul meu prezado companheiro Bruno Linck, um daqueles que há 60 anos sonhou com a existência de uma entidade capaz de unir os produtores e que mantém hoje, ainda, a juventude, tenho certeza absoluta, dos seus 27 anos, quando homens de muita responsabilidade se uniram naquele 24 de maio para fundar a nossa entidade. O Sr. Bruno Linck está aqui conosco para a alegria, para satisfação, para a honra e, principalmente, um exemplo de alguém que acredita nas coisas e por isso vive e busca, permanentemente, trazer a nós aquela injeção de otimismo, aquele apoio irrestrito e incondicional para que continuemos nesta luta.

Srs. Vereadores, Senhoras, Senhores, meus companheiros de Diretoria, meu prezado Adelar Cunha, Presidente da Organização das Cooperativas, Rettin, Presidente da Fecotrigo.

Eu confesso que, quando o Ver. Pedro Ruas nos procurou, à FARSUL, dizendo do seu desejo, da sua intenção de propor uma homenagem desta Casa a nossa Federação, me senti extremamente satisfeito, até porque eu fui Vereador, já, por duas legislaturas.

Indiscutivelmente, o Vereador é aquele homem público muitas vezes incompreendido, muitas vezes criticado, mas é ele que está em permanente contato com o povo, com homens e mulheres de todos os segmentos sociais.

Quando, evidentemente, este Vereador preza e assume principalmente a responsabilidade de bem representar seus eleitores, uma comunidade inteira, quando ele assume esta responsabilidade, é evidente, eu tive uma satisfação muito grande em ouvir na palavra do Ver. Flávio Coulon este tipo de colocação, que passa o Vereador a representar todos os segmentos de uma sociedade, porque uma sociedade é formada por todos os segmentos, homens, mulheres de todas as faixas etárias. Uma sociedade não faz, uma sociedade não se desenvolve, uma sociedade não se impõe por castas, por facções ou por grupos; uma sociedade só pode promover e alcançar o desenvolvimento quando, realmente, está consciente de que cada um é parte nesse processo de desenvolvimento e na luta por dias melhores.

Ninguém pode, principalmente hoje, trabalhar isoladamente. A interdependência entre os homens, hoje, é absolutamente total. Todos nós precisamos uns dos outros. Por isso, quando a Câmara de Vereadores decidiu esta homenagem, sugerida e lembrada pelo Ver. Pedro Ruas, me tocou profundamente na palavra do Ver. Flávio Coulon, do PMDB, do Ver. Hermes Dutra, representando o PDS, do Ver. Artur Zanella, pela Frente Liberal. Eu senti toda aquela força do autêntico político que está consciente e que, realmente, representa a comunidade e não uma parcela desta. As palavras que aqui foram ditas pelos quatro representantes partidários que saudaram a FARSUL realmente me tocaram, porque não foram palavras protocolares. Foram palavras de homens conscientes que sentiram a importância do setor primário e a importância do produtor de alimentos, importância que lamentavelmente, governos que se sucedem, em que pese, praticamente, desde o início do século, todos os mais altos mandatários desta Nação, afirmaram que a agricultura seria prioritária nos seus governos, sem exceção. Eu diria que esta afirmativa ficou apenas no discurso. Não há, infelizmente, ainda um entendimento, especialmente hoje que já, desde alguns anos, vivemos numa brutal centralização, onde todas as decisões emanam do poder central. Não há, absolutamente, por parte da área econômica, nos governos que se sucederam, essa interpretação de que a agricultura é uma coisa importante. Nós produzimos alimentos num país com uma extensão territorial continental, onde o clima e o solo são um convite à própria utilização desta terra, onde a disposição do homem para trabalhar é absolutamente permanente, mas lamentavelmente os empecilhos que se nos antepões são de tal ordem, muitas vezes, que tem sido muito difícil a ocupação deste solo. Estamos hoje num território de 850 milhões de hectares e ocupamos 220 milhões, ou seja, ocupamos em torno de 1/3 desse território apenas. O resto é potencial, o resto está à espera dos brasileiros para que ali busquem produzir alimentos em volume suficiente e de forma a acabar definitivamente com a sub-alimentação e a subnutrição que lamentavelmente ainda é hoje brutalmente predominante numa parcela consideravelmente da nossa população. Este entendimento por arte do governo central terá que vir mais hoje ou mais amanhã. A luta das entidades de classe, das federações de agricultura, das cooperativas, das federações de trabalhadores, da sociedade civil, enfim, junto ao governo central tem sido uma constante. É uma luta, às vezes inglória. É uma luta que eu diria, num tipo de palavrear muito nosso, desparelha, desigual para quem, representando uma classe, uma classe laboriosa, encontra na área federal essas dificuldades.

Tenho ouvido com muita freqüência que o Rio Grande deixou de ser um Estado produtor, que o Rio Grande foi o primeiro produtor em pecuária e que hoje está em quarto ou quinto lugar. É verdade que não somos mais os primeiros, mas por que não somos mais os primeiros? Tivemos o nosso rebanho decrescido? Não. Nós fomos os primeiros a ocupar o espaço nesse Estado. Outros espaços vazios foram ocupados, como é o caso de Goiás, os dois Mato Grosso, Minas e aí por diante. Nós não decrescemos, nós nos mantivemos, até certo ponto, estabilizados. Nós aumentamos substancialmente a nossa produção de grãos, e o nosso Estado hoje, o Rio Grande, produz aproximadamente 26% do total de grãos da Nação brasileira. Somos ainda os maiores produtores. Não somos os únicos. No passado, fomos os únicos. Hoje, ainda somos os maiores produtores de grãos deste País, enfrentando todas as dificuldades, mas conscientes de uma coisa: nós sabemos da nossa responsabilidade de continuar produzindo. Nós sabemos que as incompreensões serão um dia superadas. Nós sabemos que as barreiras serão transportadas, nós sabemos que as dificuldades serão vencidas. E serão vencidas, Sra. Vice-Presidente desta Casa e Srs. Vereadores, na medida em que a sociedade como um todo entender que a agricultura é importante, entender que produzir alimentos é importante.

Há pouco, há muito pouco tempo atrás, coisa de meses, eu diria, fomos diversas vezes duramente criticados porque estávamos perante a maior safra de todos os tempos, se dizia. No entanto, estávamos também e ao mesmo tempo dizendo das nossas dificuldades, dizendo da situação praticamente de insolvência do produtor rio-grandense e brasileiro. É evidente que a sociedade brasileira não podia entender isso. É evidente que o consumidor não pode aceitar a tese de que numa grande safra ainda se queira preço melhor pelo produto. Ocorre que, através dos tempos, o Governo Federal... E chegamos a ter, em determinada época, alguns anos atrás, juro zero em termos de financiamento – um verdadeiro absurdo, um subsídio contra o qual muita gente se levantou, inclusive da própria área empresarial, não aceitando que a agricultura fosse subsidiada daquela forma! Mas o que fazia o Governo? Dava por uma ponta e tirava pela outra porque, na hora da fixação de preço mínimo, aí era preço político e não preço com base no custo real de produção.

Então, daí as dificuldades que nós hoje estamos vivendo e que não sabemos mais qual a argumentação a levar à área federal de origem. E nós estamos fazendo, neste momento, um trabalho, de quatro, cinco anos para cá, depois de enchentes, estiagens, preços políticos, falta de recursos para os custeios das nossas lavouras, para os investimentos e para a própria comercialização. E nisso os governos da República – eu digo os governos – têm sido muito hábeis, porque, num determinado momento, jogam à opinião pública, através dos meios de comunicação, de que tantos milhões, ou bilhões, ou trilhões de cruzados foram dados – e assim muitas vezes se diz – para produzir. Entretanto, não dizem no momento em que esse dinheiro foi alcançado, e a agricultura, Srs. Vereadores, Sra. Presidente tem hora. A pesquisa determina o melhor momento de plantio e, depois, as condições de solo e de umidade dizem da hora exata em que o agricultor tem de lançar a sua semente ao solo. E se naquele momento ele não tiver os recursos, que sempre tardam – e o exemplo foi o ano de 1986, quando recursos substanciais chegaram, sim, mas com 60 dias de atraso, e ninguém pode deixar passar 60 dias da época que a pesquisa determina que é melhor para produzir – ele, desesperado, vai ao banco privado na busca do crédito pessoal. E ali vimos nós, antes do Plano Cruzado, já aquela especulação violenta, a verdadeira agiotagem que campeava: Depois, durante o Plano Cruzado, preço deprimidos, muitos deles, e o caso do produtor de leite que sua vaca foi acabar no brejo do açougue porque não podia mais continuar a produzir. No final do período do Plano Cruzado, novamente a especulação, e eu assisti e tenho documentos de produtores que tiveram que buscar no crédito o papagaio, o recurso necessário para usar na sua lavoura, pagando até 32% ao mês, pasmem os Senhores. Isso acontece neste País. Então, não é razão, porque, quando estamos, quem sabe, com a maior safra de todos os tempos, estamos também vivendo as maiores dificuldades de todos os tempos, e as conseqüências do que vivemos neste momento serão profundamente dolorosas não apenas para nós, produtores, mas serão profundamente dolorosas e nefastas à própria economia do País, porque para 1987 nós teremos garantido o abastecimento interno da população brasileira, mas em 1988, a continuar isto que está aí, se for promovido um saneamento na agricultura rio-grandense e brasileira – e quando falo agricultura, falo no sentido nato, lavoura e pecuária -, se não houver um estudo muito profundo, não haverá condições, porque hoje são milhares de produtores, especialmente pequenos e médios, que estão perdendo pelas execuções os seus utensílios, o seu instrumental de trabalho. E quando esse instrumental não é o suficiente está indo também a sua própria terra. E a perspectiva dolorosa que nós sentimos, nesta hora, é de que, provavelmente, teremos os nossos intranqüilizadores cinturões de miséria a incharem cada vez mais com quem está saindo da terra por falta de condições de continuar produzindo.

Sra. Presidente e Srs. Vereadores, na realidade, eu deveria estar aqui dizendo de todo o meu reconhecimento em meu nome pessoal e em nome dos meus companheiros de diretoria que estão aqui, em nome deste jovem Bruno Linck, que acompanha aquela casa desde a sua fundação, em 1927, em nome, enfim, do produtor rural rio-grandense, da nossa alegria, do quanto nos toca profundamente esta homenagem.

Eu estou, na verdade, fazendo um pequeno histórico de uma situação em que vivemos, mas há uma razão de ser. É muito difícil ao consumidor, à própria sociedade entender.

Então, é preciso que, de uma vez por todas, os meios de comunicação nos ajudem nisso porque, senão, aquilo que foi feito de forma indiscriminada, até criminosa e até mesmo, em alguns segmentos, em algumas importações, de forma irresponsável, em 86, nós teremos, aí sim, em 1988, uma necessidade de realmente buscar fora das nossas fronteiras – o que será profundamente vexatório para quem tem terra, tem gente para trabalhar – o alimento necessário para o consumidor brasileiro.

Quero dizer, Sra. Presidente e Srs. Vereadores, da profunda gratidão que sentimos neste momento até pelas palavras que foram ditas aqui, volto a insistir, de todos aqueles que nos saudaram, cada um em nome de sua bancada, em nome do seu partido, portanto em nome de um segmento político, de homens que estão em todos eles, inclusive entre nós, produtores, que, graças a Deus, pela democracia que impera, temos, na nossa classe, filiados aos mais diversos partidos políticos desta Nação. Que bom que assim seja. É a democracia que se implanta. É a participação na política que todos nós devemos ter, evidente que não misturando política partidária com política classista, não levando para as nossas entidades a política partidária, mas com altivez, unidos, representantes de todos os partidos, dentro de uma entidade, na minha e em tantas outras que existem por aí, lutarmos por dias melhores, porque a sociedade, volto a insistir, é feita por todos.

Esta Casa é, sem dúvida alguma, a caixa de ressonância, como se costuma dizer, das aspirações do povo porto-alegrense, mas é também porque aqui é a Capital e é, neste momento, também, a caixa de ressonância das aspirações de toda uma sociedade: hoje, daquele que produz alimentos; ontem, de outros segmentos da sociedade rio-grandense; amanhã, certamente, de outros.

Que permaneça sempre, Sra. Presidente, Srs. Vereadores, aberta a Câmara de Vereadores de Porto Alegre como forma de consolidação da nossa democracia e também, evidentemente, como forma de receber até, quem sabe, aqueles ou aquelas palavras que, como eu, neste momento, em nome da Federação da Agricultura, deixo e trago como um desabafo, quase, mas tão necessário para que haja por parte de todos nós, rio-grandenses, o conhecimento pleno e a necessidade absoluta do reconhecimento da importância destes homens sofridos que estão nos campos produzindo alimentos para a própria sobrevivência do povo rio-grandense e brasileiro. Sou grato. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Chega ao final a Sessão solene onde homenageamos o 60º aniversário da FARSUL, Federação de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, na pessoa do seu Presidente Ary Marimon e dos demais convidados que compõe a Mesa.

Senhores do Plenário, Srs. Vereadores, queremos, em nome da Casa, justificar a ausência do Presidente, Dr. Geraldo Brochado da Rocha, e dos demais Vereadores, que, devido à situação difícil que estamos atravessando no Município, devido ao estado de greve dos municipários e dos servidores da Casa, se encontram em negociação e em discussão com o Sr. Prefeito Municipal, justificativa esta que fazemos na certeza de que ela será compreendida e aceita pelos Senhores que hoje estão sendo homenageados.

Queremos dizer, também, que esta Vice-Presidente relutou em aceitar a Presidência dessa homenagem à Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul. Essa relutância se deve ao fato de que me liga afetivamente e sentimentalmente, emocionalmente, um profundo laço com a FARSUL na figura de um Vice-Presidente falecido há pouco tempo, Antônio Gildo Irigaray, que era meu irmão e que falava muito na sua querida FARSUL. Então, relutei porque sabia que iria me emocionar vendo os amigos daquele que era para mim o meu melhor amigo. Mas a vida é uma contingência, uma série de situações, e fico muito orgulhosa de, nesse momento, também representá-lo com o nome ilustre dos Irigaray para dizer a esta operosa Federação que nós estamos aqui, nesta Casa do Povo, para, como caixa de ressonância, como disse o Presidente, aceitar e ouvir o desabafo dessa classe unida e operosa e qualificada do País e do Estado e que realmente pintou um quadro difícil, um quadro negro, um quadro angustiante, que faz com que nós, políticos, empresários, produtores e povo, tenhamos o nosso momento de reflexão. É um quadro de difícil aceitação de uma realidade muito dura, muito amarga e que pode nos trazer, no futuro, os maiores dissabores se não estivermos unidos para enfrentar a grave crise que está caindo sobre todos nós. Mas nem tudo é feito das palavras negras. Temos também nossos momentos bons, e este momento bom é o convite que fazemos ao Plenário e à assistência para passarmos ao Gabinete para, num pequeno coquetel, dentro desta crise que estamos enfrentando, confraternizarmos, nos reunirmos e trocarmos idéias a respeito do que poderemos fazer para enfrentarmos, juntos, tudo isso.

Nada mais havendo a tratar, convoco os Srs. Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã à hora regimental.

 

(Levanta-se a Sessão às 17h40min.)

 

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